A ideia era ir em passeata até a frente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), no Parque do Ibirapuera. No ínicio, falaram em seguir pela avenida 23 de Maio, principal ligação entre as zonas norte e sul da cidade. Com o movimento diminuto, o grupo saiu entre os carros pela praça João Mendes, mas ao chegarem à avenida Brigadeiro Luiz Antonio, decidiu seguir pela calçada. Um deles ainda deu uma ideia para tentar salvar a tarde. "E se formos até a praça Roosevelt? Deve ter mais gente lá."
Na página do protesto, a chamada pública é: "se o salário do deputado não baixar, a cidade vai parar". Na faixa trazida para o protesto, a inscrição era a de que o Brasil iria parar. Fernando afirma que o grupo é apartidário e horizontal: "é cada um por si". Diz ter apoio do Movimento Contra a Corrupção, classificado por ele como "mais à direita" e que o grupo tem apoio de pessoas de todas as idades. "Vai de 18 a 65 anos".
"Sou administrador de empresas e o nosso grupo tem profissionais de várias áreas. O núcleo que criou o movimento tem seis ou sete pessoas", disse ele. Com uma mochila camuflada, Fernando diz ser "ex-militar". "Mas o nosso grupo não tem um perfil militarista. Nosso movimento tem cinco causas e distribuímos um manifesto que trata da primeira, que é a reforma política. As demais ainda estão em discussão".
Antes do início da passeata, ele estava definido. "Com um, cem ou mil, vamos caminhar até a Assembleia Legislativa. Somos a favor de diminuir o número de deputados, a redução da verba de gabinetes e assessores". Em uma eventual reforma política, ele afirma que é preciso incluir a corrupção na lista de crimes hediondos e o fim do voto secreto.
Fernando citou até o ex-deputado federal Clodovil Hernandes, para defender a tese. "O Clodovil já dizia que era preciso diminuir o número de deputados". Na chuva, saíram os 21 em marcha, em busca de novos adeptos. Antes de chegar à praça Roosevelt, já haviam se dissipado.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
O grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.